Após trabalhar como gari, Deize Tigrona volta ao funk e revela não ter recebido nenhum centavo de M.I.A.

Publicado em 12/01/2020 14:31
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POR ANDRÉ JÚNIOR

Deize Tigrona é um nome de respeito dentro do funk carioca e das comunidades. Dona do hit “Injeção”, a funkeira já foi sampleada por ninguém menos que Diplo e M.I.A. nos anos 2000 – enquanto vivia o seu auge com shows e turnês marcadas pela Europa. Depois de afastar-se dos palcos em 2009 e lutar contra a depressão, Deize retorna agora ao cenário musical após um hiato de exatamente 10 anos. “Vagabundo” é o seu novo single e em entrevista ao Observatório de Música, Tigrona nos contou que tem um álbum de inéditas vindo em 2020 além de revelar detalhes de polêmicas envolvendo Diplo e M.IA. Confira:

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– Você recebeu algo pelo sample que a rapper M.I.A. usou do seu hit ou pela faixa feita com o Diplo?

Então, na faixa do Diplo eu recebi  300 euros, mais 50% de direito da música, e ele como produtor. Na época eu nem sabia quem era Diplo e hoje em dia é outra coisa. Vendo hoje de fora que eu, Deize Tigrona, gravei com Diplo, parece que eu ganhei uma grana alta, mas não foi!“.

“Da M.I.A eu quase nem soube do uso do sample da minha música, imagina se eu ganhei dinheiro. O cara que passou esse sample pra ela disse que eu não tinha direito, porque ela não usou a letra. Mas daí eu te pergunto: porque que existia o sample então? Eu não recebi nada!”.

https://youtu.be/Qz2irjNUUi8

-Depois de ser uma das primeira vozes femininas do funk a despertar a atenção dos gringos, você teve problemas profissionais devido à depressão. Quanto tempo levou para você se tornar forte o suficiente para querer voltar?

“Realmente aconteceu o lance da depressão, mas o declínio… eu não sei como ele surge pra mim, na verdade eu nem sei porque dessa fala de declínio. Nos anos 2000, nós não recebíamos muita grana, eramos pessoas comuns, hoje em dia que o povo acha que eu ganhei e tô ganhando muita grana, mas não tem nada a ver! Mas sim, eu tive essa depressão e fiquei esse tempo parada. Eu levei praticamente uns 10 anos para voltar, e me lembro que na última turnê eu voltei falando que eu não estava bem. Numa entrevista que dei para a Rolling Stones eu falo sobre isso também, sabe. Sobre essa confusão na mente, sem nem ao menos saber o que de fato era depressão”.

“Eu levei 10 anos para voltar com força total. A arte é um movimento sem igual, um movimento que ativa a mente de qualquer um, ela desperta. Foram uns 10 anos pra voltar e me sentir forte assim. É complicado, pra quem está de fora e luta pela vida artística, e me ver parar por 10 anos depois de estar no topo com esse lance de turnê na Europa. Eu ia pra ficar dias e ficava meio mês, depois era pra ficar 1 mês e ficávamos mais, é uma loucura!”.

– Por quanto tempo você trabalhou como gari (enquanto estava afastada do meio artístico)? Nenhum MC lhe prestou apoio nessa época?

“Complicado mesmo. Eu trabalhei por 5 anos de gari, fiz a inscrição em 2014, logo na greve dos garis. E foi quando eu entrei. Eu fiz a prova em 5 de janeiro e no dia 15 de fevereiro, eu estava começando de carteira assinada. Eu comecei trabalhando no Leme e lá tinha um bloco chamado “Meninas de Chico”, e as pessoas me reconheciam e achavam que eu estava fantasiada. Fiz essa prova pra poder apoiar o meu marido, porque eu passei e ele não. Trabalhei como gari por 5 anos, e se alguém me deu apoio nessa época, algum MC… as pessoas ficavam se perguntando o que estava acontecendo, mas nunca falavam comigo direto. O assunto que rolava era que eu tinha medo de voar de avião e que eu tava maluca. O que eu ouvi de alguns era isso, que eu tava maluca!”.

– Como é que surgiu o convite para você voltar ao funk? Você agora faz parte da plataforma Batekoo, certo?

Não foi o convite para voltar, é o sangue que fala mais alto. Uma pessoa que é artista, que compõe… Eu sou isso. O sangue falou mais alto em mim. E o convite da Batekoo foi mais do que positivo”.  

-“Vagabundo”, seu novo single é uma composição sua? Me conta um pouco sobre a ideia dessa faixa.

“Sim, “Vagabundo” é o meu novo single com composição minha. A maioria das letras que vocês ouvem ai é tudo minha, até “Esculacho”: “…não adianta de qualquer forma eu esculacho…”, essa letra aí também é minha”.

Vagabundo” foi uma ideia que eu tive quando estava ouvindo marchinha de carnaval aqui em casa. Ficava ouvindo as batidas dos tamborins e compus essa música. E tem também a Rafaela, a Badsista, que é uma mulher produtora sem igual. “Vagabundo” fala sobre você querer realmente um lance e de repente o cara te envolver. O terno e gravata é isso, pra mostrar que até os de terno e gravata são vagabundos, bandidos. A ideia foi contar uma história de uma pessoa que só queria um lance e acabou se envolvendo, mas ainda na dúvida se pergunta: “E seu eu sentar, gostar e gamar?”.

– As suas letras são e sempre foram explícitas. Essa é a Deize Tigrona? O que você deseja gritar e escancarar para a sociedade que ouve e consome o funk?

“Sim. Na verdade eu escrevia hip hop… eu escrevi uma letra que se chama “Sobrevivente de Rave”, que fala sobre essa festa que a mãe do filho não aceita que ele vá. E aí a pessoa vai pra rave… Essa letra eu falo como nem todos os filhos foram feitos com amor. Eu tentei fazer musicas mais leves, compor algumas paradas mais lights, mas a indústria do funk, no caso o funk de favela é isso, bem explicito. E essa exposição nas letras ela vem do que eu assisto, da empolgação do público, principalmente. Eu quero que esse grito explícito, como você citou na na pergunta, não acabe nunca. Não quero que acabe porque isso é auto estima, é a fala da mulher. Quem me conhece sabe que eu sou um pouco tímida, nem tudo que eu escrevo e canto, eu faço. Eu sou a Deize Tigrona, a tímida e com muito desejo também. E obvio: eu sou explicita algumas vezes sim!”

O que eu desejo gritar pra sociedade é que a favela tem artista, tem pessoas que precisam de apoio e que precisam escancarar o que sabem fazer. Essa é a arte do funk, a arte da produção musical. Nem toda letra de funk tem palavrão ou putaria, mas o que eu quero escancarar é isso: a história da favela e o que acontece aqui. A favela não é só o tráfico nem só o tiroteio. Porque no meio disso tudo tem pessoas lutando para mostrar seu trabalho, para mostrar que sabe fazer e que pode conseguir uma bolsa na faculdade, uma bolsa pra estudar fora. É isso o que eu quero mostrar pra sociedade. A favela tem uma cultura sem igual. Eu Quero mostrar que aquela pessoa que está lavando um prato na sua casa, limpando sua sala, ela está compondo uma letra, tá escrevendo um livro. Eu quero mostrar pra sociedade que favelado não é vagabundo, que favelado tem vontade também. Vontade de mostrar o que sabe fazer e daí de repente, se tornar um astro, um popstar”.

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-Existem chances de você lançar um disco novo cheio de inéditas para 2020?

“Eu já tenho umas 13 músicas gravadas e em produção. E agora em 2020 temos mais tempo para compor, e definir quais músicas vão entrar no novo trabalho. Então, dependendo de mim, já tenho mais músicas do que o suficiente para lançar um disco novo. Bom, nós vamos lançar. Em 2020 vai ter o disco!”.

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