De origem libanesa, Mika desabafa sobre explosão no país: “Meus irmãos e irmãs”

Publicado em 10/08/2020 16:19
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Depois das explosões que, na semana passada (dia 4), atingiram Beirute, o músico britânico Mika escreveu uma carta direcionada ao povo libanês, carta essa que foi publicada no sábado pela Billboard. 

No relato, o músico, nascido em Beirute e descendente de libaneses, confessou sentir dor e revolta por causa da tragédia. Ao fim do relato, Mika escreveu palavras de esperança aos libaneses.

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“Ainda é de manhã no outro lado do Mediterrâneo. Estou perto de vocês, apesar de estar longe. Sinto-me perto de vocês que foram devastados pelo apocalipse. Fico parado, a olhar para as expressões magoadas dos meus irmãos e irmãs. Sinto o medo e as lágrimas nos olhos deles. Tremo quando vejo uma pessoa ferida a ser levada na parte de trás de um carro velho, uma jovem coberta de sangue nos braços do pai, habitantes chocados a correr de um lado para o outro nas ruas cheias de escombros, vidros partidos e edifícios estilhaçados. Ao mesmo tempo, estou tão longe de vocês, assombrado pela desolação. Na minha cabeça ouço o barulho ensurdecedor das duas explosões que assombra os residentes de Beirute. À noite, os gritos das famílias enlutadas e das vítimas atordoadas misturam-se com o som gritante das sirenes das ambulâncias. Também me falaram do silêncio das primeiras horas da manhã e do cheiro das ruínas cheias de fumo”, começou escrevendo o músico.

 “No meio deste caos, lembro uma citação do poeta libanês Kahlil Gibran: ‘só podemos chegar ao amanhecer se fizermos o caminho da noite’. Nos últimos meses, vocês têm estado afundados, uma vez mais, no caminho da noite. Há divisões, ecos de conflito nas vossas fronteiras, corrupção, impotência dos vossos líderes, a crise monetária que atirou as vossas famílias para a miséria e a pandemia do novo coronavírus. A natureza despreocupada dos libaneses e a resposta aos dramas no passado foi substituída pela revolta e pelo medo. A cada dia que passa, fico mais ansioso, como se as minhas feridas e as raízes que deixei para trás quando tinha apenas um ano e meio me tivessem apanhado”, acrescentou Mika na carta.

Não deixo de pensar que estas duas explosões simbolizam um sistema que está a ruir. A explosão das bombas, causando a morte nas ruas ainda marcadas pelas cicatrizes da guerra, não pode deixar de ser ouvida. O primeiro-ministro libanês, Hassan Diab, garante que os responsáveis ‘serão responsabilizados’. Mas os responsáveis por quem? Por quê? Os responsáveis por 30 anos de agonia que transformaram a terra dos cedros em terra de cinzas. Diz-se que uma catástrofe é um desfecho trágico, é o fim de uma série de infortúnios. Depois da noite vem o amanhecer. Conheço a vossa resiliência, a força e a solidariedade nutridas pela vossa mistura de culturas, pelo lugar especial que ocupam entre o mundo árabe e a Europa. Amanhã, vão voltar a reerguer-se como sempre fizeram. A música vai voltar a sair das vossas janelas. As pessoas vão dançar nas varandas e os aromas vão voltar a sair das vossas cozinhas. Nessa altura, estarei aí”, escreveu o músico europeu.

As explosões no porto de Beirute causaram 220 mortos segundo a imprensa local e mais de 6 mil feridos, de acordo o último balanço divulgado pelo Ministério da Saúde libanês. Há cerca de 300 mil pessoas desalojadas.

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